domingo, 30 de setembro de 2007

Ideias da Globalização

Artigo transcrito do Diário Económico: Martim Avillez Figueiredo (editorial)
Da Globalização
O Presidente da República Portuguesa publica hoje em exclusivo Ibérico (Diário Económico e Expansión) um texto em defesa da globalização.
Faz bem. Este é um dos assuntos mais sérios, juntamente com o terrorismo, que o mundo tem para discutir. E não é a dimensão económica que lhe dá relevância. É o facto, extraordinário, de dividir opiniões com a mesma intensidade com que antes se separava esquerda de direita - e com o mesmo grau de ignorância.
Numa definição muito simples, globalização traduz-se como o processo através do qual o mundo se transforma num gigantesco mercado único. Isto significa que bens, serviços, dinheiro e o próprio trabalho são transaccionados sem olhar a fronteiras - apoiados em sistemas de comunicação muito rápidos e eficazes. Mas claro, daqui pouco se depreende: enquanto uns lêem benefícios nestes conceitos (como Cavaco Silva), outros descobrem problemas (como Mário Soares). Em que ficamos? Vale a pena olhar quatro ideias.
Primeira ideia: A ideia de globalização surge quando se percebe, de facto, que circular de um lado para o outro é simples. Antes, populações divididas por duas faces da mesma montanha falavam línguas diferentes e tinham hábitos distintos. Hoje não: comem, vestem, negoceiam e sentem quase da mesma maneira. Portanto, é uma consequência normal - não uma iniciativa política.
Segunda ideia: O que confere dimensão política à globalização, portanto, é a decisão (inevitável) de avaliar as consequências dessa dinâmica natural. E aí, sim, há quem prefira privilegiar a ideia de liberdade enquanto outros valorizam a injustiça por ela gerada. Mário Soares, por exemplo, teme os efeitos sociais desta revolução, enquanto Cavaco Silva prefere sublinhar os ganhos que gera em toda a humanidade. E entretanto, no mundo, estas simples clivagens cavaram fossos gigantes entre os que apoiam o fenómeno e os que o rejeitam.
Terceira ideia: há um caminho alternativo, para o qual o texto do presidente chama a atenção: aquele que potenciando os efeitos positivos do movimento livre, concebe um plano para minimizar os danos colaterais. Le Grand, trabalhista britânico que defende o socialismo de mercado, lembrou o evidente: hoje todos são simultaneamente consumidores, trabalhadores e proprietários (da própria casa, por exemplo). Essa dimensão, concretiza, torna-os globais. E por isso é inevitável que queiram viver em globalização - em interacção permanente e aproveitando essas três dimensões.
Quarta ideia: Valorizar as capacidades individuais, e a possibilidade de as exercitar sem limites geográficos, é um valor notável que faz a balança pesar a favor da globalização. Ou seja, ainda que nada mais fosse acautelado, isso seria melhor do que um mundo dominado por corporações - públicas ou privadas. O que simplifica tudo: basta que se adicione a esta vantagem a cautela previdencial do Estado Garantia para que se olhe a globalização com tranquilidade. Melhor: como uma oportunidade.
Comentário de Elvira Vieira: A globalização veio para ficar. Quer se queira ou não. É um facto consumado a vários níveis, que se encontra em permanente mutação por força do dinamismo dos mercados. A sua importância justifica a maior atenção dos governantes mundiais e a sua negligência pode produzir graves problemas de competitividade.

Conselho da Globalização

Artigo transcrito do jornal Diário Económico: 2007-09-27 00:05 - Márcia Galrão

“Bill Gates escreve a Cavaco Silva sobre globalização"
O dono da Microsoft elogia o conselho para a globalização, que decorre amanhã.
“Portugal está a definir a agenda certa, no sentido de ajudar ao estabelecimento de pontes entre a União Europeia e outras regiões-chave à volta do mundo para parcerias duradouras e para concorrer com outros blocos económicos”.
É com este tom de elogio para com o Presidente da República que Bill Gates escreveu uma carta a Cavaco Silva, onde diz que Portugal é o parceiro indicado para fazer a ponte com África. Vindo do homem mais rico dos Estados Unidos, e de uma das personalidades mais influentes a nível planetário, a afirmação só pode ser entendida como um caderno de encargos principalmente quando, segundo a carta a que o Diário Económico teve acesso, Bill Gates explica que “a concorrência [com outras regiões] encoraja regiões como África a desenvolver-se a um ritmo mais rápido para melhorar o acesso dos seus cidadãos a melhor educação e serviços de saúde”.
No texto, Bill Gates destaca as virtualidades do Conselho para a Globalização, patrocinado por Cavaco, e que reúne amanhã 46 empresários nacionais e internacionais, em Sintra.·
A Presidência da República encara a carta de Bill Gates como um elogio, mas principalmente como um sinal: cabe a Portugal liderar a relação dos países com África, o que o torna um parceiro privilegiado para fazer a ponte.
Cavaco, no entanto, vai mais além e quer estender essa ponte a outras áreas geográficas e outros mercados.
Na carta, Bill Gates lamenta ainda o facto de não poder estar presente na Segunda Edição do Conselho para a Globalização, mas sustenta que se trata de uma importante iniciativa para a Microsoft: “É um excelente fórum para ajudar a definir as prioridades da cooperação internacional que Portugal definiu para a Presidência Europeia da UE”, sublinha.
Este ano, o Conselho patrocinado pelo Presidente da República conta com a participação de 46 empresários, 22 deles portugueses. O ex-ministro da Saúde é um deles, juntamente com Ricardo Salgado. O presidente da EFACEC, Luís Filipe Pereira, sublinha a importância da reunião para a “estratégia de internacionalização” da sua empresa e acredita que os temas escolhidos “ajudarão os empresários a perceber os elementos e vectores a ter em conta numa estratégia internacional”.
Os novos patamares de competitividade permitidos pela globalização podem, segundo Luís Filipe Pereira, ser usados pelas empresas portuguesas, que devem apostar na “diferenciação, inovação e customização”. É na tecnologia e na inovação que Portugal pode “alargar a sua actividade a nível global”, uma vez que “o custo da nossa engenharia não é tão elevada, mas a qualidade é similar à de outros mercados mais desenvolvidos”.
Comentário de Elvira Vieira: A consciência global muito além das fronteiras regionais, tem colocado em diálogo os grandes responsáveis e protagonistas da globalização, Empresas, Estados e demais Organizações, no sentido de melhor se adaptarem às constantes mutações do ambiente internacional, aproveitando oportunidades e precavendo ameaças, num cenário de rápida evolução.